Unknown

Todos os dias ela levantava-se com o sol na cara. Mesmo quando havia nuvens no céu.
Comia a sua fruta, os cereais, e saía de casa com um iogurte na carteira cheia de talões antigos. Era uma desarrumada! (risos)
Era dona de uma agência de publicidade muito conceituada, mas não era snobe; falava a todos de manhã com a maior das boas disposições e boa educação.
Eu achava-a descontraída mas trabalhadora, divertida mas pouco faladora. Guardava sempre o mais importante para ela. Adorava isso nela...(emocionado)

- Está bem? Se quiser fazer um intervalo na entervista, esteja à vontade!

Não, não. Continuemos. Ahm... Onde é que eu ia... Sim, tudo lhe corria bem. Amigos não lhe faltava, talvez mais em quantidade do que em qualidade, ainda assim, tenho a certeza que adorava a vida que levava. O poder usar a criatividade no trabalho, as saídas à noite ao fim-de-semana, as viagens loucas em cima da hora que ela fazia! Era mesmo doida, realmente... Alugava uma carripana e arrastava toda a gente com ela para ir fazer as coisas mais maravilhosas que alguma vez experienciei. Uma vez levou-nos para França, para o lago aude pyrénées-orientales! Foi lindo... No meio da neve, das árvores, estava um tempo de sonho. Um sol radioso!
Fomos nadar todos nus, à noite, no lago com lanternas que ela trouxe para nos vermos debaixo de água. Depois do jantar ela punha-se a imitar os animais(comovido).

Ahm...Adiante! Sempre fui amigo dela e sempre fui apaixonado por ela. Sei que ela o sentia, mas eu não era correspondido e ela tentava não me magoar da maneira mais doce que conseguia; fazia-se de desapercebida.

Se eu estava à espera? Não, nunca... Não se espera que coisas deste género acontecam, mas sabia que ela era capaz. Apesar de ser uma pessoa cheia de emoções, era assustadoramente desprendida do mundo e das pessoas. Vivia um bocado no mundo dela como o Petit Prince.
Estava a arrumar a mala à pressa para ir ter com ela e o resto pessoal porque tínhamos recebido uma mensagem a dizer "aluguei a carripana outra vez! esta vai ser a melhor de todas! vocês vão-se passar... well... LOVE YOU GUYS!!!".
Fomos todos ter a casa dela, que era sempre o ponto de encontro. Quando estamos a subir o elevador começamos a ouvir gente a chorar. Era a família dela. Pensei, quer dizer, pensámos todos que lhe tinha acontecido alguma coisa. O irmão dela, João, mal nos viu, começou a perguntar se sabíamos da carta. Não sabíamos de nada! O João exaltou-se e começou a bater num dos nossos amigos, desesperado por ter perdido a irmã. Foi então que no meio da confusão vi uma carta em cima da mesa.
Despedia-se de toda a gente, e muito sucintamente dizia que não aguentava mais a pressão da sociedade, não percebia porque é que as pessoas têm de ter dinheiro, carros, carreiras, casas... E que ia vaguear pelo mundo. Nómada como todos os outros animais da terra. (choro emocionado)

- Até hoje voltou a vê-la alguma vez, ou foi contactado?

Não voltei a vê-la, mas uma vez ligou-me.

" - Estou?
- Peter. Sou eu.
- ... (respiração nervosa) Onde é que estás?!
- Estou em todo o lado e sempre em casa. Todos os dias conheço pessoas maravilhosas. Liguei-te porque queria dizer-te para não te preocupares comigo.
- Estás doida?! Não podes fazer isto... Eu tenho saudades tuas! Toda a gente tem! Volta por favor!
- Liguei-te para te dizer que estou feliz. Não vou voltar, mas talvez, no futuro os nossos destinos se cruzem outra vez. Espero que encontres o mesmo que eu um dia. Adeus baby.
- Espe....
(disconnected)
....ra"