Unknown
Quando o teu corpo deixa de bombear sangue e a vida se extingue do batimento do teu coração, a tua “alma” cessa a sua existência.
Não, não foste o Alexandre o Grande noutra vida por teres liderado e conquistado países.
Não, não foste a Cleópatra por teres tido um caso com as duas cabeças da política e economia mundial.
Não, não foste o Einstein por teres inventado uma nova fórmula matemática para o problema da física quântica.
Não, não foste o Mozart por teres composto a peça de piano do teu século que será estudada posteriormente.
Não, não foste o teu avô porque não conseguiste nem tinhas vontade de ser um bom pai porque ela engravidou de propósito.
Tu, no sítio em que deste o teu último fôlego, deixaste a tua aflição, a tua alegria, o teu êxtase, o teu desespero, o teu orgasmo, o teu sofrimento. Tu és matéria e energia.
Um leopardo, um beija-flor, mesmo um cavalo-marinho, foram e deixaram de ser. Sentiram, sofreram e regozijaram tanto ou mais que tu na sua simplicidade de prazer, para no fim cessarem todos os seus momentos e experiências com um ponto final na sua existência. Vieste de matéria, e matéria voltarás a ser, terra, alimento, fertilizante, isso será a tua “reencarnação”. A tua “alma” é apenas reminiscências de energias fortes, passadas, que deixaste no teu local de partida. Como as nuvens, a tua energia dissipar-se-á e transformar-se-á em algo que já não és tu, como um “sim mãe” obediente de uma criança que antes fazia  birra, como a epifania de um Zé Ninguém que não tinha motivos de vida, como uma pessoa que queria dizer não e disse sim.
Não te refugies no conforto de um além guardado por um todo poderoso capaz de julgar, possivelmente chamado “Deus”. Vive plenamente, erra, acerta, escolhe, deixa ao acaso, faz, não faças, mas faz o que te faz feliz, pois vida, que tu alguma vez tenhas sabido, vivido ou sentido, só tens uma, e se não fizeres dela uma obra do Pollock, ao acaso e sem nexo, só porque te sabe bem, de que vale viver?