Unknown
Acabei de ler a tua carta... Não percebo. Como é que largas sentimentos como quem expira? Sinto-me um espelho partido... Sem utilididade, sem vida, desprezado.
Vim para aquela rocha onde gostavas de ver o pôr-do-sol quando estavas feliz... Feliz comigo.
-PORQUÊ?! Sem ti a minha alma morre! Estou desesperado... Preciso de ti, do teu cheiro do abraço quente, da tua pele suave. Quero bater-te! PUTA!!... Não me deixes... Eu amo-te.

----

Desesperado continuava a berrar para o mar com a carta molhada e rasgada ainda na mão. De repente parou. Só sentia a chuva, o coração já estava morto, não batia, as veias no seu corpo ficaram frias. Chorou, levantou-se em silêncio e começou a despir-se. Completamente nu ainda agarrava a carta e chorava tristeza e abandono de todos os poros do seu corpo.
Caminhou devagar até à beira do penhasco. Fechou os olhos e sentiu a chuva. Sentiu o frio. O silêncio cru. Deixou-se cair no poço mais profundo da sua alma. Tudo estava escuro. Abriu a mão, a carta escorregou dos seus dedos molhados. Abriu uma última vez os olhos e saltou das rochas gritando.

O seu corpo escondeu-se para sempre nas profundezas do mar junto com o seu coração esquartejado.
A chuva cantava sozinha. O sol pôs-se e o ar voltou a ficar vazio, sem tristeza, sem felicidade, sem energia, sem abandono.