Unknown

Epona cavalgava nos planaltos e penhascos escarpados da Gália, verdes e cheios de vida, sempre, depois da estação das chuvas.
Lugh sempre a observara, no nascer de todas as primaveras, quando o branco do inverno dava lugar às cores apaixonadas da estação das flores. Sendo um deus mágico e com um talento sobrenatural para a arte, decide um dia declarar o seu amor à deusa dos cavalos esculpindo uma estátua gigante desta a montar o seu majestoso percheron branco.
Durante sete dias, uma obra de arte divina nasce das suas mãos. Faltava apenas um detalhe, esse detalhe era tudo: faltava o sorriso de Epona. Desamparado, a luz de Lugh apaga-se apercebendo-se que nunca vira a sua amada sorrir.
No dia seguinte vê a deusa a montar numa praia com o chão coberto de pedras e segue-a até casa.

- Epona...
- Quem me chama? - pergunta Epona olhando em todas as direcções, assustada.
- Epona, sou eu, Lugh - este revela-se, saindo da sombra de uma árvore centenária.
- Lugh? Mas... O teu rosto, já não brilha como o sol. Que se passa?
- Perdi a minha luz ao realizar que nunca vi o teu sorriso. Mostra-me o espelho da tua alma nos teus lábios, faz-me brilhar outra vez e ganharás o meu coração e um tributo a ti na terra.

Epona sorri, não por Lugh lho ter pedido, mas por ficar comovida com as suas palavras, e por, talvez, este ter acendido sem querer uma luz na deusa de cabelos longos cor de avelã.

Uma estátua maior que o maior templo que a Gália já alguma vez vira erguera-se do dia para a noite, passando a ser adorada e venerada pelos humanos.

Lugh apesar de apaixonado, pouco sabia de Epona, esta era mulher de Dagdé o deus da fertilidade da vida e da morte.
Dagdé descobre quem fez a estátua e porquê. Sente-se atraiçoado como um Jesus por um Judas. Parte para a vingança quando se apercebe que a sua mulher olha pela janela quando ele lhe fala, suspira quando pensa encontrar-se sozinha; quando penteia os seus cabelos de uma forma diferente, quando os olhos se acendem sempre que ouve "Lugh".
Uma tarde, Dagdé segue Epona até um monte onde esta se encontra com Lugh e furioso, desce à terra destruindo com a sua maça a estátua que guardava o coração de Lugh.

O deus da arte fica sem alma e sem luz por não poder ficar com o amor da sua vida, morre por dentro e deixa o seu corpo vaguear sem destino no universo dos deuses.
Epona deixa de conseguir ter filhos do desgosto e Dagdé manda-a juntamente com o seu cavalo para a terra tornando-a mortal, até esta voltar a amá-lo.

Muitos anos se passaram, Dagdé continuava raivoso, Lugh continuava vazio, e Epona, cansada de uma vida tão solitária, morre olhando o pôr-do-sol lembrando-se de quando uma vez sorriu e amou.