Unknown
Cabelos espigados pelos ombros e sem brilho envolvem uma cara despida de emoções e sentimentos, parece coberta de um espesso véu de apatia e constante desespero que esconde a beleza que ainda ontem (não foi ontem?) fazia quebrar corações com um gesto, ou dava vida com um olhar; essa, desapareceu como fumo.
Com os olhos irrequietos em constante busca de algo ou alguém, coça-se e morde o lábio lembrado-se de algo muito desejado.
Na discoteca onde sempre costumava sair parece destoar completamente da fauna envolvente. Hmm... Devem ser eles que estão tolos, já ninguém repara que ela lá está, e se notam a sua presença tossem de desconforto, ou afastam-se pedindo uma bebida no outro lado da pista.
- Broncos! Aqui não arranjo nada... Vou ao DownLow club que lá são mais fáceis, por mim fazem tudo.
Muda a música e o ambiente; de músicas sexys que convidam para a brincadeira passa-se para qualquer coisa negativa sem importância, de sorrisos e almas jovens para expressões carregadas de vício e sem medo de nada, nem da morte, desprovidas de uma coisa que se chama "amor" acho eu.
Os olhos da rapariga perscrutam esta nova selva podre, um espaço escuro e pequeno com meia dúzia de seres a arrastar-se, cada um no seu mundo. Dirige-se a um homem sentado sozinho a um canto, com a largura a exceder a altura, uma t-shirt manchada e suada, com os olhos fixos num ponto infinito para além da visão da rapariga.
Sentado-se ao lado do peludo gorduroso, esforça-se por ser algo que antes era naturalmente - sensual.
- Gosto dos teus ténis. - diz num tom provocador (dentro do possível).
Pondo a mão no colo da lontra, recebe em troca um olhar furioso, como quem é acordado de um nirvana para uma repugnante realidade.
- Não queres é? Nem sabes o que perdes oh gordo nojento, fazia-te coisas que nunca te fizeram. Anda lá.
Lambendo o lábio superior tenta seduzir o homem. Este, num movimento puxa-a para si e agarra com um apetite ordinário e voraz todas as partes do seu corpo. Ela deixa-se tocar, apática, vai agarrando o corpo do seboso até encontrar algo que a faz sorrir. Talvez "sorrir" não seja adequado aqui, vou reformular: "algo que a faz produzir um esgar de prazer vindo das mais profundas trevas do seu ser".
Agarrando em algo precioso e fugindo do homem agora aos berros, esconde-se no beco das traseiras do estabelecimento.
Lá fora, atrás de um contentor arregaça uma manga do casaco de malha com buracos e rasga a bainha do vestido demasiado largo, dando uma volta apertada ao braço esquerdo com o pedaço de tecido. Deita-se no chão incapaz de controlar o corpo com espasmos de sensações orgásmicas, e deixa-se ir.
Cai num poço profundo dentro de si sem se preocupar se um dia voltará ou não.