Unknown
"Hmm... Que cama. Sinto-me abraçado pelo seu calor; sinto-me no meu casulo feito de algodão. Adoro esta cabana, quente, com a lareira sempre a crepitar uns troncos de madeira caídos de qualquer maneira.
Que horas são? Não, não vou ver. Que dia tão cinzento... Com a neve branca e as nuvens não consigo distinguir o céu da terra. Se ela estivesse aqui..."

Levantando-se até à bancada da cozinha aquece um chá com leite que leva para a mesa da sala cheia de luz, que com portas de vidro para a varanda, faria qualquer fotógrafo fechar os olhos para guardar uma fotografia na memória.
Pondo os óculos com uma mão, com a outra puxa a franja do cabelo liso para trás. Dá um gole, e senta-se na cadeira com as pernas cruzadas.
Fica a olhar o horizonte, quando algumas nuvens se afastam e deixam passar raios de luz do sol.
Ele levanta-se e puxando as calças de pijama xadrez para cima, encosta-se ao vidro da janela a observar a neve reflectir o sol.
Agarra a chávena com as duas mãos e sente o aroma do chá.
Acaba de beber e vai para a varanda com um aquecedor, um bloco de notas, uma caneta e a cabeça cheia, num turbilhão de pensamentos vazios e sem corpo.
Passado um pouco, depois de engolir a beleza das montanhas cobertas de neve e brilho, o turbilhão transforma-se em algo parecido com uma mistura de fumo com água ondulante que escoa através da mão em forma de palavras para o papel.